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Gabriel Horsth

coord. de comunicação

Cais de ancestralidade: a cosmovisão de Cachalote Mattos

O legado de um dos principais cenografos negros do país no Cais Valongo

Data

Um espaço de memória ganha vida e significado nas mãos do premiado cenógrafo Cachalote Mattos. Com sua expertise em expografia, Cachalote assina a ambientação única da mais recente obra “Valongo: Cais de Ancestralidade”, uma iniciativa artística que traz à luz a rica história e o simbolismo por trás do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro.

Dos ciclos do tempo à eternidade

A exposição tem a curadoria de Ynaê Lopes e se baseia no conceito do pensamento congolês Bunseki Fu Kiau. Inspirada na cosmologia da sociedade Bakongo, a exposição utiliza a mandala Diekenga para representar os ciclos do tempo, do universo, da vida e de todas as coisas viventes. A conexão entre o mundo espiritual e o físico, separados pelas águas da Kalunga, ressalta a importância da herança africana na história do Cais do Valongo e do Brasil.

Para Cachalote Mattos, a criação da escultura para a exposição permanente do Cais do Valongo foi uma experiência de extrema relevância. Como artista negro, ele destaca a oportunidade simbólica de trazer a centralidade africana e a dimensão de humanidade para um local que desembarcou escravizados, se conectando com sua própria ancestralidade. “Hoje comemoramos e não deixamos apagar nossas histórias”, enfatiza o cenógrafo. 

Infraestrutura

A revitalização do Cais do Valongo, entregue em novembro, mês que marca a Consciência Negra no Brasil, é um marco significativo. Com um investimento de mais de R$ 2 milhões de reais, financiado por uma empresa chinesa e pela embaixada americana, a obra incluiu a instalação de novo guarda-corpo, placas de sinalização e iluminação especial. Antes das intervenções, o local enfrentava problemas constantes de alagamento.

Reconhecimento internacional

Revelado em 2011, com a implementação das obras do Porto Maravilha, e impulsionados pelas reivindicações do Movimento Negro e outros atores da sociedade civil, o processo de escavação na região teve como finalidade resgatar as camadas históricas que envolvem o passado ligado à escravidão. Revelando, assim, vestígios arqueológicos e potencializando a voz das memórias silenciadas, proporcionando a reconexão com uma parte essencial da história brasileira. 

O Cais do Valongo foi reconhecido em 2017 como patrimônio da humanidade pela Unesco. Essa distinção destaca a importância histórica e cultural desse espaço, agora revitalizado e imortalizado pela visão ímpar de Cachalote Mattos e uma equipe formada por Ynaê Lopes (curadoria e pesquisa), João Raphael Santos (pesquisa) e Maria Julia Ferreira (designer gráfico).

Memória imortal

A obra “Valongo: Cais de Ancestralidade” não apenas resgata a história dolorosa do tráfico de escravizados, mas também celebra a resiliência e a riqueza cultural da comunidade africana. Sob a magistral direção expográfica de Cachalote Mattos, o Cais do Valongo se fortalece como um espaço de reflexão, educação e preservação da memória do país. “Esses mundos se sobrepõem na visão Bakongo, então achei importante valorizar e trazer para o projeto esse conceito. O encontro do mar, de onde vieram os seres humanos escravizados, e ali mesmo morrem e foram enterrados”, argumenta Mattos ao fundamentar a concepção central da exposição.

Da escavação à exposição

O Cais do Valongo, reconhecido como o maior porto de receptação de africanos escravizados do mundo, é um local histórico carregado de significado. Entre 1774 e 1831, estima-se que passaram por suas instalações mais de 1 milhão de pessoas escravizadas. Hoje, o lugar ganha um novo olhar sobre a direção de artistas negros renomadas do país, afirmando o compromisso com a preservação da identidade, da justiça histórica e da compreensão coletiva do passado.

Aberta ao público

Se você deseja conhecer “Valongo: Cais de Ancestralidade” e mergulhar na rica história da exposição, é só se dirigir à Av. Barão de Tefé, Saúde, Rio de Janeiro, a obra de Cachalote Mattos é uma oportunidade única de reflexão sobre nossa herança cultural. Ao visitar, cada espectador contribui para a preservação da memória coletiva e se conecta com a riqueza cultural do país.

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